Se Renato não despontar, grupão político apoiará Pacheco, afirma Alécio

O Presidente da Câmara faz parte do grupo político mais forte da cidade, composto pelo prefeito Leonaldo Paranhos e pelo vice Renato Silva

Por Gabriel Porta Martins

Se Renato não despontar, grupão político apoiará Pacheco, afirma Alécio

O vereador e presidente da Câmara de Cascavel, Alécio Espínola (Podemos), concedeu entrevista ao jornal Gazeta do Paraná na segunda-feira (01), onde abordou seu futuro político e os rumos da eleição municipal que está por vir. Alécio explicou as articulações políticas que levaram à escolha de Renato Silva (PL) como pré-candidato a prefeito pelo grupo político liderado pelo prefeito Leonaldo Paranhos (PL) e detalhou os apoios e estratégias para a disputa eleitoral.

Alécio Espinola carrega a imagem de um político carismático e espontâneo. Para quem o acompanha na Câmara, com suas frases de efeito que surgem quando ninguém espera, Alécio é exatamente assim também presencialmente. Ele é um político que fala como se fosse um sabichão de tudo, e de fato, é. 

Hoje, Alécio é uma figura relevante na política cascavelense. Ele está no comando da Casa de Leis há cinco anos e meio. "Minha gestão tem sido pautada no diálogo, com uma excelente aprovação, incluindo números positivos do Tribunal de Contas, é por isso que você não vê uma Câmara em conflito ou criando polêmica, mas sim uma gestão que busca o consenso e o bom funcionamento dos trabalhos", afirma. 

Por enquanto, Espínola é pré-candidato a vereador. Ele está envolvido no meio desde 2012, quando disputou sua primeira eleição. 

Estamos próximos a mais uma eleição municipal, e sempre gera a expectativa de como ficará a Câmara de Vereadores após a eleição. Se haverá renovação ou se a população decidiu manter os mesmos nomes. Político experiente como é, Alécio opinou sobre este assunto. "Nos últimos anos, a média tem sido que metade dos vereadores não consegue a reeleição, sendo substituídos por novos candidatos. Acredito que isso ocorrerá novamente com os 21 vereadores atuais, podendo haver surpresas para mais ou para menos”.

Mas o ponto alto da entrevista foi quando Alécio decidiu falar sobre a prefeitura. O Presidente da Câmara faz parte do grupo político mais forte da cidade, composto pelo prefeito Leonaldo Paranhos, pelo vice Renato Silva, pela maioria esmagadora dos vereadores, com o apoio do governador Ratinho Júnior (PSD) e um forte alinhamento ao bolsonarismo que predomina em Cascavel. Este grupo político já havia definido em 2020, conforme as palavras de Alécio, que Renato Silva seria o representante do grupo na eleição de 2024. Mas já é de conhecimento da cúpula que Renato Silva enfrentará muitas dificuldades nesta eleição, correndo o risco de ficar fora do segundo turno.

Por isso, o grupão trabalha com a hipótese de apoiar outro político que possa ter mais apoio popular, e ele é Marcio Pacheco. “Se o Renato não despontar e restarem Marcio Pacheco e Edgar Bueno, o nosso grupo já conversou e decidiu que o candidato será o Pacheco, isso é uma decisão do grupo, não é uma escolha individual minha. Se essa situação se concretizar, eu apoiaria o Pacheco”, afirma. 

A questão está relacionada às dúvidas que as pesquisas levantam. Apesar do apoio e suporte que Renato tem recebido, incluindo o do governador Ratinho Júnior e do ex-presidente Jair Bolsonaro, esperava-se que o empresário estivesse liderando as pesquisas com folga. No entanto, Renato aparece em terceiro lugar, e em alguns cenários raros, em segundo, podendo enfrentar um segundo turno contra o ex-prefeito de Cascavel, Edgar Bueno, que é apontado como favorito nas pesquisas. 

Voltando ao assunto Renato e Alécio, pois fica nas entrelinhas que os dois não se dão muito bem. Alécio tenta manter uma postura formal e conciliadora, mas há uma possível mágoa com Renato por conta de conflitos partidários. "Tivemos um estresse porque eu deveria ir para o Republicanos, mas a chapa do Republicanos não aceitou, e isso gerou um conflito. É evidente que houve um estresse com todos, mas acredito que, como grupo, somos uma família. Há momentos de estresse, mas depois todos se acalmam e discutem. Sou um entusiasta de Cascavel, um cidadão que acredita na nossa cidade e, acima de tudo, acredito que a política é um instrumento de mudança para a população. Com o Renato sendo prefeito, não posso trair meus princípios e devo continuar dando sustentação para que o Renato possa realizar uma administração tão boa quanto a do prefeito Paranhos”.

Fato é que o próximo prefeito de Cascavel será Renato Silva, Marcio Pacheco ou Edgar Bueno, este último fazendo oposição ao grupo de Paranhos. Questionado sobre qual candidato ele teria uma relação melhor em uma situação hipotética de vitória, entre Pacheco e Edgar, Alécio manteve uma postura diplomática. "Eu não conheço pessoalmente nenhum dos dois candidatos, e eu voto de acordo com meus princípios. Se o candidato for Pacheco ou Edgar Bueno, eu vou agir conforme os princípios que defendo. Se eu tenho uma preocupação genuína com o ser humano e com a cidade, entendo que um prefeito é importante porque ele pode melhorar a vida daqueles que mais precisam. A Câmara não pode ser um obstáculo às políticas públicas que beneficiam a população. Se eu sou um homem de princípios e crente em Deus, não posso ser um empecilho para ações de governo que promovem o bem-estar da cidade. A vida do cidadão melhora por meio de políticas públicas, e eu não vou trair meus princípios ou bloquear ações que são para o bem da comunidade. Isso eu não farei em hipótese alguma", salienta.

A articulação do grupo político para definir o candidato a prefeito rendeu muitas discussões e Alécio havia criado expectativa para ser escolhido, mas também manteve os pés no chão e trabalhou com a possibilidade de não ser ele, até porque quatro candidatos disputaram o mesmo posto. "Eu trabalhei com as duas possibilidades, de ser ou não ser candidato a prefeito. Quando ele (Paranhos) me disse que o candidato seria o Renato, eu já estava psicologicamente preparado para isso. A vida não dá nada de graça a ninguém, essa é a verdade. Estava preparado para receber o 'não' do Paranhos. Ele só me chamou porque eu tinha viabilidade; na política, ninguém pede para alguém segurar se não houver viabilidade. Ele viu que eu tinha chances reais e me chamou antes de eu passar nas pesquisas, o que poderia tornar a situação mais difícil por causa da janela partidária. Recebi isso preparado psicologicamente, pois a vida é enfrentar desafios”.

Houve especulação sobre Espínola ser vice de Renato, no entanto, o presidente da Câmara demonstra não ter esse desejo. "Muitos querem ser vice dele. Eu me coloquei como pré-candidato a vereador e vou seguir dessa maneira”.

Alécio mantém uma relação de longa data com Paranhos, iniciada em 1996, quando começaram a trabalhar juntos. Desde então, estreitaram os laços e se tornaram grandes amigos, com Alécio destacando o respeito, a lealdade, a cumplicidade e uma relação familiar com o atual prefeito. Em relação a Renato Silva, Alécio afirma que sua relação é mais administrativa. Mesmo assim, após 20 anos na Rádio Colmeia (emissora de rádio de Renato Silva), ele desenvolveu um profundo respeito por Renato. "Acredito que ele fará uma boa administração e, sem dúvida alguma, terá o nosso apoio e respeito”. 

 

Câmara

Devido à época de pré-campanha, a Câmara de Vereadores se torna mais movimentada, com alguns vereadores tentando se destacar. No entanto, Alécio confirma que a situação está sob controle. "Realizei uma reunião antes do início do período eleitoral para organizar as matérias que serão discutidas no plenário e evitar que um vereador busque se sobressair mais do que os demais. Esse equilíbrio é fundamental para o bom funcionamento da Casa. Portanto, a situação está seguindo normalmente", afirma. Dos 21 vereadores, apenas Professora Liliam não concorrerá ao cargo legislativo, pois é pré-candidata a prefeita. Alécio destaca que este não é o momento para tentar mostrar serviço apenas para fins de promoção pessoal, mas sim para colher os frutos do trabalho realizado ao longo dos anos. "É importante continuar na mesma toada para evitar conflitos, especialmente agora no período eleitoral. Por enquanto, os vereadores estão mantendo o mesmo ritmo, pois a reeleição demanda tempo e energia. O que foi feito até agora está feito; não adianta querer inventar na reta final, pois não há mais tempo. É necessário colher os frutos do que foi plantado ao longo desses anos”.

 

Pautas na Câmara

A inclusão de pautas bastante polêmicas na Câmara Municipal de Cascavel tem gerado debates intensos. Um exemplo recente é a discussão de projetos de lei, como a "PL do estupro" ou "PL do aborto". Questionado sobre a eficácia das pautas polêmicas, o presidente da Câmara destacou que a sua postura é estar aberto à discussão desses temas, pois não tratar dessas questões seria uma maneira de ignorar os problemas que elas representam. "Eu aprendi que discutir os temas é muito importante. Por isso, você pode perceber que eu não tenho nada travado na pauta. Por exemplo, hoje teve um requerimento sobre a questão do aborto que foi adiado. Eu acredito que ele deve ir para a pauta e que a discussão precisa acontecer. Vivemos em um momento de polarização, com PT e PL e a dicotomia entre direita e esquerda, mas a discussão precisa acontecer. Se eu guardar essas questões na gaveta, estou ignorando o debate. É no debate que as coisas se esclarecem e as soluções aparecem".

 

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